Cultura, folclore, culinária, tabus, lendas ...

 

   MITOS, LENDAS E HISTÓriaS:


             Influenciados pela  dinâmica das águas, os mitos e lendas pantaneiras refletem a relação
 que a população aprendeu a estabelecer com a paisagem.
Também conhecidos como mitos d'água, espalham-se e chegam a se confundir com a realidade.
Conheça os principais deles:
    
     Mãe d'água
     Parente da sereia, mantém o mesmo hábito de se pentear em cima de uma grande pedra. Nos dias em que o pescador não consegue pegar peixe, dizem se tratar da benção da mãe d'água sobre o anzol. Protetora dos peixes, é considerada um mito ecológico.
 
     Negrinho d'água
     Também conhecido como Caboclo d'água em outras regiões, é uma espécie de Saci-Pererê do rio, que vive fazendo travessuras com os pescadores. Andam em bandos e, no fundo dos rios, há a cidade dos negrinhos d'água. ás vezes, quando capturam um pescador, levam-no para o fundo do rio para dar-lhe surras!
 
     Minhocão ou minhocuçu
     É um grande monstro em forma de serpente, que circula pelos rios e águas do Pantanal virando canoas, devorando pescadores, levantando grandes ondas e desmoronando barrancos dos rios. As lendas dizem que não se pode reformar ou restaurar a igreja matriz pois o minhocão encontra-se preso pelos fios de cabelo de Nossa Senhora.
 
       Fuça-fuça
     Outro bicho aquático, fuça nas partes mais rasas do rio e sua face assemelha-se é de um porco. As areias agitadas sob a água são sinais de que está próximo.
 
     Mãe do ouro
    É quase como uma bola de fogo que brota da água ou da terra, indicando que há dinheiro ou ouro enterrado por perto. Por isso é que Mãe do Ouro só aparece em regiões de mineração.
 
     Barco fantasma
     Um barco que afundou na Baía de Chacororô no fim do século XIX está até hoje assombrando suas águas. Dizem que ele surge das águas, em meio as ondas e ao som do hino do Divino, misturando vozes de conversas e risos.
 
CULINÁRIA
 
        A culinária pantaneira, antes da construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (finalizada em 1914) tinha uma dependência do rio Paraguai: navios estrangeiros ali aportavam, trazendo mercadorias, passageiros e consequentemente seus costumes (geralmente fronteiriços).
 
 
 
        Deste período destacamos o “puchero” (cozido) da Argentina, que é diferente do similar mineiro; do Paraguai veio a chipa, a sopa paraguaia e o locro; de Cuiabá as farofas de banana e de carne, o pacu ensopado, frito ou assado, e o caribéu (abóbora com carne seca).
 
        Merece destaque especial o TERERÉ, também de origem paraguaia, trata-se da mais popular bebida sul-matogrossense, uma espécie de chimarrão dos gaúchos, preparado com a erva mate (Ilex paraguariensis) e bebido frio ou gelado. Sua chegada deu-se através das cidades fronteiriças de Ponta Porã e Bela Vista, região rica em ervais nativos, que tiveram muita importância na formação do Estado através da histórica Companhia “Matte Larangeira”.
 
 
 
        Depois da finalização da estrada de ferro ligando Corumbá a Santa Cruz de La Sierra, a Bolívia contribuiu com a saltenha e o arroz boliviano (espécie de rizoto com ervilhas, banana da terra frita, pedaços de galinha, ovos cozidos e milho verde).
 
        Na culinária sul-mato-grossense como um todo, destacam-se ainda:
 
        Pequi (fruta típica do nosso Cerrado), utilizado tanto no preparo de um prato salgado (arroz com pequi) como na forma de licor;
 
 
        Forrundu (doce feito de mamão e rapadura de cana);
        Guaraná (ralado na hora, é substituto do cafezinho, estimulante e renova energias); Quibebe de mamão;
        Suco ou caldo de piranha (é forte e renova energias);
 
 
 
        Bocaiúva (fruto nativo que pode ser usado como farinha, com leite quente ou no preparo de sorvetes);
        Peixes variados (pacu, dourado e pintado, entre outros);
 
 
 
        Churrasco pantaneiro (servido sempre com mandioca);
        Carne seca (em paçoca, cozida, frita, assada, no arroz, etc);
 
 
 
        Doces de época (caju, goiaba, carambola, abóbora, doce-de-leite na palha).
 
 
         A culinária pantaneira é uma das ricas do Brasil, caracterizada pela herança indígena e do branco, adaptada ao clima e disponibilidade de ingredientes. As águas, a fronteira com Paraguai e Bolívia, os trilhos da antiga Noroeste do Brasil e os mais remotos habitantes deixaram influências marcantes nos hábitos alimentares de uma região distante dos grandes centros – dos shoppings e da cultura do hambúrguer.
 
         Que tal saborear uma lasanha de peixe (pintado), acompanhada de arroz branco e creme de mucunzá, com um bom vinho branco?
 
         Ao sabor da terra, temos: pizza de carne seca; pintado ao molho tangerina com filé e banana da terra grelhados e arroz com brócolis; risoto de carne seca ; filé à paiaguás -  recheado com banana da terra e bocaiúva - e purê de manga e arroz flambado.  Estes são alguns pratos encontrados na culinária pantaneira.
 
  
             
 
 
    A CULTURA PANTANEIRA

Pantanal: um mosaico de culturas e influências

As influências culturais no Pantanal configuram um grande mosaico, formado desde o contato dos indígenas com os primeiros desbravadores até, posteriormente, com bandeirantes e com aqueles que vieram em busca do ouro na região de Poconé. A partir do século XVIII começa a ocupação intensiva do Pantanal, em busca de minérios na região centro-norte do antigo Mato Grosso. No centro-sul, muitas famílias de migrantes desbravaram o Pantanal e constituíram as fazendas de gado que marcam profundamente a cultura pantaneira, centrada nos valores pastoris e com influência paraguaia e dos nativos.

Estabeleceram-se grandes sedes de fazendas ao longo dos últimos 200 anos, uma vez que a planície ofereceu aos trabalhadores de gado pastagens naturais para a criação extensiva, ou seja, solta no pasto. Nesse contexto surgem contrastes entre a cultura rústica do peão e as tradições burguesas dos patrões e seus descendentes.


Peões da Fazenda Rio Negro, no Pantanal do Rio Negro, em Aquidauana. Foto de Paulo Robson de Souza

A vida no Pantanal não é tarefa fácil, apesar da imagem de paraíso. É difícil adaptar-se ao pulso anual de inundação e ao isolamento promovido pelas águas. Os habitantes da planície são conhecedores de plantas medicinais e das condições do clima. O vaqueiro pantaneiro guarda consigo conhecimentos de toda dinâmica do Pantanal - aprendizado necessário àqueles que precisam conduzir o gado pelas vazantes para escapar das enchentes, pois formam-se até hoje grandes comitivas de gado que atravessam os pantanais. Muitos peões pantaneiros são descendentes de paraguaios que migraram procurando trabalho após a guerra do Paraguai (1864-1970). Entre suas habilidades estão a doma do cavalo e a confecção de artefatos de couro.

Os piscosos rios proporcionaram uma cultura de pesca em toda a região. O pescador pantaneiro, pela observação do ambiente, tornou-se conhecedor do comportamento dos peixes; sabe em quais partes do rio a fauna aquática costuma se abrigar e pela observação do nível das águas reconhece se vai dar peixe.

Na culinária destacam-se o peixe na brasa, o ensopado, o pirão e o caldo de piranha, o arroz carreteiro feito de carne seca, a banana da terra com farinha, o guisado de mandioca, a galinhada e a mandioca cozida, servida com o churrasco pantaneiro - assado num braseiro cavado na terra e espetado, em grandes pedaços, em estacas de madeira rústica. Os povos paraguaio e boliviano trouxeram grandes contribuições, como a sopa paraguaia, espécie de bolo de fubá com cebola e queijo, a chipa, a saltenha e o puchero.

O tereré, mate gelado, é costume dos Guarani e símbolo de toda a região. Amigos se encontram nas rodas de tereré para prosear e se refrescar. Já é um hábito incorporado a grande parte da população urbana de Mato Grosso do Sul. O chimarrão, mate quente, é apreciado e chegou ao Pantanal com os gaúchos.

Na música, existem registros de ritmos únicos da região, como o siriri e o cururu, sons tirados da viola-de-cocho - instrumento rústico, feito do tronco de árvores e que antigamente tinha cordas de tripa de bugio. É grande a influência dos ritmos paraguaios, como a guarânia, a polca e o rasqueado, disseminados no Mato Grosso. Bailes com esses ritmos, associados ao vanerão e ao xote dos gaúchos, são frequentes nos municípios do Pantanal. Também foram criados muitos Clubes de Laço e feiras agropecuárias.

Considerado um povo festeiro, aniversários e datas religiosas eram motivos para promover grandes festas nas fazendas para as quais as famílias se deslocavam em carros de boi. Alguns fazendeiros procuram manter essa tradição, mesmo com nuances mais modernas. Muitas festas de cunho religioso católico são registradas na planície, como os Mascarados, de Poconé (MT), e a festa do Divino Espírito Santo, de Coxim (MS). Houve também integração com confraternizações do Paraguai e da Bolívia, como o Touro Candil, de Porto Murtinho, e a festa de Nossa Senhora de Caacupé, em Bela Vista, Caracol e Porto Murtinho, municípios de Mato Grosso do Sul.

Pesquisadores já estão detectando transformações do modo de viver das populações pantaneiras. A chegada das redes de comunicação (TV e rádio) provoca novos anseios relativos ao consumo. Hoje os fazendeiros, em sua maioria, não moram nas fazendas, e o contato dos funcionários com o ambiente urbano é cada vez maior, pelas facilidades trazidas pelas estradas e necessidades criadas pelas relações econômicas. Novas modalidades de trabalho, como piloteiros e isqueiros, passaram a existir com a propagação do turismo de pesca e, em menor escala, o ecoturismo ou turismo contemplativo.

 
 
 
 
 
           

Folclore

em

Mato Grosso do Sul
 

                     A palavra Folclore foi criada pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms, sendo que os dois vocábulos saxônicos folk e lore, que significam, respectivamente , povo e ciência, saber. Thoms,estudioso, enviou uma carta para a revista londrina “The Atheneum”, contando a respeito dos estudos  que vinha fazendo sobre antiguidades populares e pediu apoio financeiro para levantamentos de dados relativos aos usos , tradições,  lendas, músicas regionais da Inglaterra. A partir das pesquisas de Thoms e de outros que foram se interessando pelo assunto, o folclore  se caracterizou como uma das mais autênticas expressões do povo, uma síntese de suas tradições. 
 

Folclore Regional
 

                    O Folclore regional é constituído por elementos e traços culturais  de diferentes culturas que se entrelaçaram, se misturam e se harmonizaram recriando-os em novas bases. As influencias culturais  recebidas de estados vizinhos fazem com que Mato Grosso do Sul apresenta peculiaridades diferenciadas dos demais estados brasileiros, principalmente, porque somam às influencias e trocas culturais nas regiões de fronteira com o Paraguai e a Bolívia.

Lendas e Mitos
 

             O homem pantaneiro, em sua simplicidade, acredita na lenda do mar de Xaraés, que explica ser a grande área inundada do pantanal um antigo mar que foi secando e onde sobraram somente áreas alagadas, inclusive com inúmeras baías de água salgada.
          O homem pantaneiro nunca perdeu o encanto mágico e acredita inclusive, que o “Arco-íris transporta, para outros lugares, os peixes e as baías do Pantanal.

Lenda dos Tuiuius
 

                    Tem uma lenda conhecida, que explica A tristeza do jaburu, ave símbolo do pantanal, mais conhecida como tuiuiú. As aves sempre foram alimentadas por um casal de índios que, após a morte, foi enterrado no local onde costumava alimenta-las. Os tuiuiús, em busca de alimentos, ficam sobre o monte de terra que cobria os corpos do casal, esperando que de lá saíssem algumas migalhas para alimenta-los. Como isso não ocorreu, ficavam cada vez mais tristes, olhando em direção ao chão. É por esse motivo que os tuiuiús parecem estar sempre tristes, olhando em direção ao solo.

João de Barro
 

         João-de-barro é uma lenda difundida em todo o Estado, pois se trata de um pequeno pássaro que constrói sua casa em todos o cantos do pantanal, dos campos e dos cerrados,lembrando de colocar a porta do lado contrário  às chuvas freqüentes. Caso a companheira o traia, João-de-barro a tranca definitivamente na casinha,fechando a porta para sempre.

Pé-de-Garrafa
 

        O bicho Pé-de-Garrafa é um dos mitos mais conhecidos^em Mato Grosso do Sul. Descrito como um bicho homem, cujo corpo é coberto de pelos, exceto ao redor do umbigo, dando a impressão de ter coloração branca, ponto vulnerável ao mostro. Alguns afirmam que tem cara de cavalo com um só olho no meio da testa, outros juram que tem cara de gorila e, outros ainda, cara de cachorro. O fato é que a grande maioria descreve o bicho como possuidor  de apenas um pé (embora poucos digam que ele tem dois pés), no formato de um fundo de garrafa. Este fato faz com que se locomova aos pulos, como se fosse um canguru, deixando no chão, um rastro com marca de fundo de garrafa. Solta fortes assobios para comunicar que é dono do território, podendo atéhipnotizar aquele que se atreve a encara-lo. A vítima é levada para sua caverna, onde é devorada.

Minhocão
 

         O Minhocão tem grande semelhança com a Boiúna do Amazonas. Segundo pesquisas, o Minhocão é uma espécie de serpente longa e cabeçuda, não tendo cor definida, mas sabe-se que é escura devido ao seu habitat. Vive sob o barro das barrancas do rio e ao passar deixa marcas no chão, em forma da sua imensa cabeça.Quando fica zangado e faminto, serpenteia no rio de tal forma que derrubas a embarcações, devorando pescadores e afundando canoas. Alguns dizem que produz imenso ruído ao se aproximar e os mais crédulos preferem referir-se a ele como o bicho. Pode acontecer que a pessoa , ao presenciar a um ataque  do Minhocão, não supere o fato e enlouqueça.

Come-língua
 

          Come-língua é um outro bicho que povoa o imaginário das pessoas que moram na região do bolsão. É uma variante do Arranca-língua, lenda do Araguaia, trazida pelos goianos. Trata-se de um bicho que vive a arrancar a língua dos animais, que são encontrados mortos no pasto,sem vestígios de ataques de outros animais. Em Mato Grosso do sul, o mito apresenta-se de forma de um menino-bicho. Quando vivia, o menino era mentiroso  e sua mãe, antes de morre, rogou-lhe uma praga. Tempos depois, o menino foi encontrado morto e sem língua. Numa ocasião, um fazendeiro encontrou um gado morto no pasto e viu correr, no meio da mata, o menino com uma língua ensangüentada nas mãos verificando que o gado não mais possuía língua.

Negro d'água
 

        O Negro d’água é outro mito da mesma região, uma espécie de bicho-homem peludo que vive nos rios, assustando pescadores e afundando embarcações.
 

Donos do Porcos
 

                   Descrito como uma entidade  encantada que protege os animais e castiga aqueles que os matam sem necessidade.

Anta Sobrenatural
 

                   Este animal,enquanto ser portador de atributos sobrenaturais, ora assume atitude protetora, ajudando o homem a realizar proezas difíceis, ora torna-se causa do desaparecimento de pessoas.
 

Mãozão

ou

Pai do Mato
 

               É descrito como um bicho peludo, inicialmente assemelha-se a anta, em seguida cresce vertiginosamente, transformando-se em um homem negro, cabeludo e barbudo. Os crédulos afirmam que ao passar sua mão pela cabeça de uma pessoa, esta ficará louca.
             Apesar do nome, o Mãozão não possui mãos grandes;   elas, porem, são extremamente poderosas , de onde resulta a denominação do personagem.

Sinhozinho
 

               Na região de Bonito, tem o mito do Sinhozinho, um frei que andou pregando ensinamentos religiosos pela região nos anos 30, Pequenino, mudo, benzia, curava e se comunicava, mesmo sem dispor de voz. Desapareceu sem deixar vestígios, mas sua presença foi marcada pelas obras que fez, pelas cruzes e capela que construiu. Uma das história contadas pelo povo é que Sinhozinho teria prendido, em um grande buraco de um dos morros da cidade, uma cobra gigante, selando com uma de suas cruzes. Se a mesma for descoberta e retirada a cobra sairá e poderá devorar os moradores da cidade. Em torno dessa personagem, existem vários causos que cada contador enfoca  um aspecto diferente.

Santo que fugia
 

             Em Baús, corre a história do Santo que fugia. No local existe uma capelinha, cujo santo, Nosso Senhor do Bom Jesus, tem os pés cortados , porque toda vez que ele era transferido para outro local, durante a movimentação dos “revoltosos”, retornava sozinho para a igreja. Essa é a forma que os moradores mais antigos encontraram para explicar a montagem da imagem separada  de seus pés.Na realidade, esse tipo de imagem sacra, também denominada popularmente de “santo do pau oco”, trata-se do santo de roca,muito usado no período barroco, quando o ouro no Brasil já havia se esgotado e, diante da escassez do dinheiro, os doadores de santos à igrejas investiam menos. Nessa época, as imagens esculpidas  apenas com a cabeça, pés e mãos reduziam ao mínimo os gastos, principalmente com a folhação a ouro e mão-de-obra do artista. A partir de então se tornou comum a confecção de santos nesse estilo,

Cultura e Arte em Mato Grosso do Sul –
Campo Grande - 200